Coração de cambaxirra
É pequeno, penso, trôpego.
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De noite veio um poema
Puxar meus pés, assombrado.
Cobrar, qual Rubem Fonseca,
Meus boletos atrasados.
Cobrou do meu abandono.
Cobrou dos portões fechados.
Cobrou das falsas janelas,
Dos pregos nos assoalhos.
Cobrou dos fundos das malas.
Cobrou dos mundéus armados.
Cobrou da prosa forçada,
Dos versos amordaçados.
Tive medo do poema:
Vulto-holograma-fantasmo.
Tive medo do punhal
No meu pescoço enrugado.
Tive medo de morrer
Por esse punhal, sangrado.
Tive medo de viver
Pra sempre amaldiçoado.
“Poeta, nunca abandone
Seus amores mais chegados!”
Disse o poema, rasgando
Poeta, cama e estrado.
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