No final da estrada que dá para Pilões, na Paraíba do Norte, vindo das terras da antiga usina Santa Maria, à esquerda, inicia-se a estrada que terminará em Serraria. Estrada de barro, veredas bem marcadas. Também do lado esquerdo dessa estrada encontraremos dois engenhos de fogo morto, caldeira fria, mudas moendas, bagaceira livre. O primeiro é o engenho Boa Fé. E mais adiante vemos apenas o que sobrou do antigo e opulento engenho Poções. Sua chaminé aponta para alguma constelação oculta no céu, pois até a lua se esquiva do seu bolorento olho. O tempo, pelo brejo paraibano, passou rápido, rasteiro e devastador. Ninguém se deu conta desse tempo réptil e muitos cultuam a ascensão, maldizendo a queda, o tombo ribanceira abaixo. O brejo é rico em histórias de assombração. O brejo é pródigo em histórias reais, moldadas pelo lodo, pelos fungos, pelo esquecimento. Este livro conta uma dessas histórias. As ilustrações desse livro são delicadezas a mim ofertadas pelo artista plástico S. Ramos. Ele e eu nascemos na cidade de Areia, na Paraíba do Norte. Estudamos no mesmo colégio estadual, andamos juntos pelas antigas ruas do velho arruado, sofremos juntos as mesmas dores. Ele vinha da zona rural, do sítio como se dizia, para lá do distrito de Mata Limpa. Iniciou-se na pintura e foi o principal nome dessa arte no município. Na década de 80 veio para São Paulo. Só nos reencontramos em 2008. Nossa amizade continua a mesma. A ele, que aparece de barba nessa foto abaixo, deixo meu agradecimento, além de corroborar minha admiração. Quanto a mim, quem quiser saber mais dos meus desencantos, jogue meu nome na busca da internet. Essa estrada que nos leva De Pilões a Serraria, No brejo paraibano, Tem beleza e poesia, Mas foi construída à base De febre, escarro, agonia. Por ela passaram jovens Com seus sonhos transpassados, Homens de vida volátil, Capatazes equipados Com chicotes, peias, facas, Foices, facões e machados Os senhores dos engenhos, Em seus cavalos de milha, Perscrutavam cada palmo, Apertando mais a cilha, Puxando o laço da corda, Retesando a armadilha. Os gritos deram a pauta De fausta trilha sonora Capaz de ferir os tímpanos, Reverberando na aurora, Travando pássaros, aves, No cutucar de uma espora. Seja o engenho Bom Retiro Nossa fulcral estação. O ofício da rapadura Grassava pelo grotão, Morava em nossos sentidos: Olfato, tato, audição. ...
Cordel, Poesia, poemas, romance, literatura, Vendas de livros novos e usados, edição de livros de Cordel, editoração, diagramação, palestras, Lançamentos e eventos culturais, saraus, música, ...