"Pode-se dizer que o ofício, ou a atividade tradicional, esculpi o ser do homem. Toda diferença entre a educação moderna e a tradição oral encontra-se aí. Aquilo que se aprende na escola ocidental, por mais útil que seja, nem sempre é vivido, enquanto o conhecimento herdado da tradição oral encontra-se na totalidade do ser."
Amadou Hampaté Bâ.
O que é Griot ou Akapalô?
Num tempo sem a escrita, anciãos da África contadores de histórias, eram os guardiões das tradições do seu povo e que transmitiam oralmente, de geração em geração.
Da mesma forma que o nosso povo nordestino sentava nos terreiros sob a luz da lua ou a sombra de arvores para ouvir as histórias do Cordel, assim era nas aldeias africanas. O povo passava horas ouvindo as histórias do imaginário ou das suas tradições culturais de forma oral, contadas pelos velhos conhecidos como: Akpalô’s ou Griot’s.
Minha avó, foi minha Akpalô
A baiana Sá Maria, assim era conhecida a minha avó Maria Francisca da Silva. Teve papel relevante na minha vida literária e provavelmente no meu destino. Numa noite de lua clara, num tempo sem energia e sem televisão, contou-me a primeira história de Cordel, no terreiro da sua casa, interior de São Paulo. Foi uma noite mágica. Garoto de apenas 6 anos de idade, não consegui dormir naquela noite sonhando com todo aquele cenário de gigantes e heróis valentes de um linguajar estranho – versos. Hoje sou um escritor cordelista da tradicional Editora Luzeiro Ltda., de onde saiu a história que ela me contou: "A história do valente João Acaba-mundo e a serpente negra" de Minelvino Francisco da Silva que, coincidentemente residia em Itabuna-BA, região de onde a minha Avó partiu atrás do filho, meu pai que havia embarcado num pau-de-arara para o oeste paulista. Todas as outras histórias contadas por ela, eu reli posteriormente nos livretos. Cinquenta anos depois eu os encontrei com as páginas acidificadas ou manchadas pela ação do tempo, nas prateleiras da editora Luzeiro.
Vale lembrar que a minha Avó não sabia ler e nem escrever, mas de tanto ouvir na juventude, as histórias de cordel, ela havia decorado. Influenciado por ela ou provocado pela magia do cordel que ela recitava em versos, passei a amar os livros e me tornei um escritor de cordel. Obrigado, minha Akpalô.
AS CABAÇAS DO AKPALÔ
Minha avó era esperta.
Mente privilegiada!
Velhinha, mas muito sábia
— Não se joga fora, nada! —
Complementava sorrindo
— Inclusive a velharada!
— E o que tem nesse baú? —
Perguntei bem ansioso.
— Isso é tudo coisa velha!
É maluquice de idoso —
Respondeu-me ironizando
Com um sorriso gostoso.
Usando de esperteza
No descuido da vovó,
Retirei uma cabaça
Escura de tanto pó,
Mas com a casca pintada,
Cor de galo carijó.
— O que é isso Vovozinha? —
Perguntei pra disfarçar.
— Não abra essa cabaça,
Ou eles vão escapar!
São espíritos de histórias
Querendo se libertar.
Se eu não a conhecesse
Diria que era caduca.
Os males da velharada!
Primeiro as dores na nuca,
Depois se perdem no tempo,
Ficando lelé da cuca.
— Sente-se que eu vou contar
A história dessa cabaça,
Que o caixeiro viajante,
Um homem cheio de graça
Esqueceu em nossa casa
Em virtude da cachaça.
(...)
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