O Poeta Boia-Fria em Paris - 44pg Josué G. Araujo - Areia Dourada - Cordel

A Magia do Cordel

O Francês Estudei o idioma francês no Ginásio Estadual durante os dois primeiros anos, no início da década de sessenta, pois fazia parte do currículo escolar. Fiquei tão fascinado por esse idioma que, no meio do ano, já tinha notas suficientes para encerrar o período.

Através dos livros, conheci a Torre Eiffel e imagens de estudantes, sentados nos gramados dos Champs-Élysées, o que provocava a minha imaginação. Um boia-fria sonhando com o impossível: tocar nessa torre, um dia. Pelo menos para sonhar, não precisava de dinheiro.

O Cordel

As páginas dos livros tornaram-se telas do portal do mundo desde quando minha avó, que não conheceu escola me contou sobre o Cordel, especificamente a “História do Valente João Acaba-Mundo e a Serpente Negra”, de Minelvino Francisco da Silva. Eu não conseguia mais pensar em outra coisa a não ser livros. Li o que havia disponível na época, na minha cidade do Pontal do Paranapanema: gibis, fotonovelas, jornais velhos, almanaques das farmácias, bulas de remédios…

À noite, para dormir, mergulhava no mundo virtual literário. Eu representava os papéis de todos os personagens. Sempre criava um mundo que estava acima da realidade que eu vivia nas lavouras, nas roças de carrapichos, nas colheitas do algodão e do amendoim, como Boia-Fria.

Um dia, decidi escrever essas vivências literárias virtuais e, mais de quatro décadas depois, lancei meu primeiro livro na mesma editora do Cordel que minha avó havia me contado.

Editor e cordelista

Meu terceiro livro de Cordel foi premiado pelo Ministério da Cultura em um concurso nacional de 2010. Em 2015, abri a editora Areia Dourada, e essa feliz ideia me salvou nos porões solitários da pandemia. As pessoas reclusas e ou desempregadas começaram a escrever mais e a editora se firmou.

O sonho

Dois livros de autores publicados na editora entraram na lista da prefeitura, a importância exata para financiar duas passagens para a Europa, onde o meu netinho nasceu e já estava com quatro anos de idade.

Decidi que 2024 não seria um ano comum. Fui à Irlanda e porque não à França? Precisava tocar na base fria daquela sonhada torre. Deixei um Cordel, ao Deus dará, solto e autografado sobre uma daquelas pirâmides transparentes da praça do Louvre, pois o enredo daquele livro tinha início e final no cenário das dependências do Louvre. A magia da literatura do Cordel levou o Boia-Fria para dormir uma noite em Paris. Voltei a Dublim para a casa da minha filha e o meu neto, onde fiquei por duas semanas.

O que eu não sabia sobre a Irlanda

A Grande Fome da Irlanda, ocorrida entre 1845 e 1852, teve consequências devastadoras para o país: Mortalidade e Emigração: Cerca de um milhão de pessoas morreram de fome durante esse período. Mais de um milhão de irlandeses foram forçados a emigrar, principalmente para os Estados Unidos e o Canadá. A população da Irlanda reduziu entre 20% e 25%. Causa Biológica: A causa mais próxima da fome foi uma doença provocada pelo oomiceto Phytophthora infestans. Esse fungo contaminou em larga escala as plantações de batata em toda a Europa durante esse período. Condições Precárias e Epidemias: Os que permaneceram na Irlanda enfrentaram não apenas a fome, mas também doenças. A partir de 1847, uma série de epidemias, como escorbuto, tifo e disenteria, agravou ainda mais a situação. Em 1849, um forte surto de cólera matou quase 40.000 pessoas. Emigração pelo Atlântico: A emigração tornou-se uma saída, mesmo com os perigos da travessia pelo Atlântico. Milhares de navios transportaram irlandeses fragilizados pela fome para os Estados Unidos e o Canadá. Tantos conseguiram chegar que, em 1850, havia mais irlandeses em Nova York do que na capital da Irlanda, Dublin. A Grande Fome deixou uma marca indelével na história da Irlanda, mas mostrou a resiliência e a capacidade de superação do povo irlandês. Superação do povo irlandês A Irlanda passou por períodos de desemprego e emigração em massa, mas hoje é um santuário para jovens profissionais e estudantes. O país tem o segundo maior salário-mínimo da Europa, €10,10 por hora. O sistema de educação da Irlanda está entre os dez melhores do mundo, com quesitos como horas de ensino, salários de professores e retenção de alunos acima da média dos 37 países da ECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)1. Em resumo, a Irlanda é uma referência global de ensino, com um sistema educacional sólido e uma rica história de superação e inovação. Investimento em Educação: A Irlanda investe significativamente em educação, com um sistema público de ensino bem financiado e uma abordagem progressista para o desenvolvimento de currículos. Qualidade dos Professores: Os professores irlandeses são altamente qualificados e passam por treinamento rigoroso antes de entrar na sala de aula. O país valoriza a formação contínua dos professores, incentivando-os a buscar mestrados e doutorados em suas áreas de especialização. Sistema de Ensino Superior: A Irlanda é conhecida por suas instituições de ensino superior de renome, como a Universidade de Dublin (Trinity College), a Universidade Nacional da Irlanda e o Instituto de Tecnologia de Dublin. Essas instituições oferecem cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas, incluindo ciências, tecnologia, artes e humanidades. Ambiente Multicultural: A Irlanda atrai estudantes de todo o mundo, incluindo o Brasil, criando um ambiente multicultural nas universidades e escolas. Isso promove a troca de ideias, perspectivas e experiências, enriquecendo a educação e preparando os alunos para um mundo globalizado. Inovação e Pesquisa: A Irlanda é um centro de inovação e pesquisa, especialmente nas áreas de tecnologia, ciências da saúde e engenharia. Empresas como Google, Facebook, Intel e Microsoft têm escritórios na Irlanda, proporcionando oportunidades de estágio e emprego para estudantes. Apoio ao Estudante: O sistema educacional irlandês oferece suporte abrangente aos alunos, incluindo serviços de aconselhamento, orientação profissional e assistência financeira. Os estudantes também podem participar de atividades extracurriculares, como esportes, música e teatro. Em resumo, a combinação de investimento, qualidade dos professores, instituições de ensino superior de prestígio e um ambiente multicultural fazem do sistema educacional da Irlanda um dos melhores do mundo.

Alguns dados estatísticos

- A Irlanda é uma pequena ilha. ( 121ª posição no ranking mundial). - O Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial e tudo se tem nessa terra, inclusive a amazônia. Não estamos entre os dez países mais evoluidos do planeta. - A Irlanda tem o terceiro maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, refletindo sua qualidade de vida, educação e padrão de vida. - O Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, ocupa a 89ª posição entre 193 países*.

O Cordel que minha “avó-sem-escola” contou, de forma decorada, levou-me aos livros. Os livros levaram-me a Europa, fizeram de mim, o que eu sou.

O Autor
“...
Eu vislumbrei o passado
Ao redor de uma fogueira.
Os cavaleiros gritando,
Cavalgando pela beira.
Vi imagens no clarão
Das chamas da tradição,
Na marcha da caminheira.
...”